Sobre a poesia e o poeta

Expressão de sentimento
Contida se liberta de dentro
Faz suspiros em tu, eles
Choro em ele, vós
Palavras se tornam “nós”

Poesia é solidão
Poeta é solitário
Talvez seja sim ou não
(So)neto involuntário

O poeta de nada tem certeza
Lêem poesia com clareza?
Tu, eles e vós identificais?

E o poeta descontente
Sente na alma a solidão
Um doer no coração
Não descrevi meu sentimento

Chuva

Precipitação atmosférica de água
Júbilo aroma, terra pantanosa
Infância etérea, brincadeira na enxurrada

O teto

Meia noite. Ao meu quarto me recolho
Meu Deus! E este teto! E, agora vede:
No concreto bruto sobre a parede,
Protege-me a pele, então me recolho.

Vou mandar derrubar a parede
Digo. Erguê-la ainda, somente com o olho
E olho o teto. E vejo-o ainda, intriga-me o olho
Figura imóvel sobre minha rede!

Levanto. Esforços faço. Chego, 
Quase a tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que arte produziu tão perfeito quadro?

A consciência humana é este teto!
Por mais que a gente a faça, a noite ele esta lá
Imperceptivelmente em nosso quarto.

Adaptado de: O Morcego - Augusto dos Anjos