Poesia de janela

Da minha janela
Eu vejo a rua, a lua
Também a chuva

Eu vejo o céu
Hora cinza, vez azul

Da minha janela 
Eu vejo o quadro
A tela que não pintei

Eu "vejo" a canção
O acorde que não toquei

Da minha janela
Eu vejo o sol nascer
Eu vejo o pôr do sol

Eu vejo os versos 
Poesia que não escrevi


O teto

Meia noite. Ao meu quarto me recolho
Meu Deus! E este teto! E, agora vede:
No concreto bruto sobre a parede,
Protege-me a pele, então me recolho.

Vou mandar derrubar a parede
Digo. Erguê-la ainda, somente com o olho
E olho o teto. E vejo-o ainda, intriga-me o olho
Figura imóvel sobre minha rede!

Levanto. Esforços faço. Chego
Quase a tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que arte produziu tão perfeito quadro?

A consciência humana é este teto!
Por mais que a gente a faça, a noite ele esta lá
Imperceptivelmente em nosso quarto.

Adaptado de: O Morcego - Augusto dos Anjos