Quisera

A crônica que chegou
Decidiu ser conto
Ao flertar com poesia

O quadro roubou a cena
Pintou uma rima
Ao som de uma canção

Quisera eu trocar
Todos esses caracteres
Que pensam ser rabiscos
Por crônica ou conto
Verso, pintura ou melodia

No sinal

No sinal vermelho
Parado, pensei em crônica
Haikai no amarelo














Ritual, decisão e desencontro

Todos os dias ele seguia sempre o mesmo ritual. Acordava disposto, se vestia, calçava seu tênis velho, porém confortável, e seguia para sua caminhada matinal.

Extremamente disciplinado mantinha sempre a mesma rotina. O mesmo horário, sempre tudo muito cronometrado. Pelo portão de serviço do prédio chegava à rua, e logo em seguida alcançava a praça do bairro onde caminhava há alguns anos.

Hoje foi diferente. Acordou, seguiu o roteiro de todos os dias até chegar ao portão, e pensativo decidiu fazer outro percurso. “__Todos os dias caminho pela mesma praça, já faz um bom tempo que vejo a mesma paisagem, as mesmas pessoas, o que é pior, sempre caminho em círculos, sempre encontrando as mesmas caras sem graça volta pós volta”.

Assim, nosso amigo, determinado a mudar o trajeto decidiu percorrer por outros destinos. Outros ares, outros olhares. Prosseguiu, virou as costas para a praça, e rumou em busca da avenida principal, onde poderia então cumprir sua meta de andar em linha reta em vez de círculos.

Passara cerca de trinta minutos quando Ele, distraído e contemplando o novo cenário cruzou com uma jovem que também caminhava naquela pista. Ela tinha olhos negros e grandes, os cabelos também negros, lisos, longos e amarrados evidenciavam ainda mais sua sensualidade. As curvas de seu corpo davam ao caminhar uma leveza que parecia fazê-la flutuar, apesar de andar a passos firmes e no pique que caminhada exigia.

Por instantes que pareceram intermináveis, Ele e Ela trocaram olhares. Flertaram. Ambos seguiram em frente. Continuaram a caminhada. Em linha reta em vez de círculos.