Ritual, decisão e desencontro

Todos os dias ele seguia sempre o mesmo ritual. Acordava disposto, se vestia, calçava seu tênis velho, porém confortável, e seguia para sua caminhada matinal.

Extremamente disciplinado mantinha sempre a mesma rotina. O mesmo horário, sempre tudo muito cronometrado. Pelo portão de serviço do prédio chegava à rua, e logo em seguida alcançava a praça do bairro onde caminhava há alguns anos.

Hoje foi diferente. Acordou, seguiu o roteiro de todos os dias até chegar ao portão, e pensativo decidiu fazer outro percurso. “__Todos os dias caminho pela mesma praça, já faz um bom tempo que vejo a mesma paisagem, as mesmas pessoas, o que é pior, sempre caminho em círculos, sempre encontrando as mesmas caras sem graça volta pós volta”.

Assim, nosso amigo, determinado a mudar o trajeto decidiu percorrer por outros destinos. Outros ares, outros olhares. Prosseguiu, virou as costas para a praça, e rumou em busca da avenida principal, onde poderia então cumprir sua meta de andar em linha reta em vez de círculos.

Passara cerca de trinta minutos quando Ele, distraído e contemplando o novo cenário cruzou com uma jovem que também caminhava naquela pista. Ela tinha olhos negros e grandes, os cabelos também negros, lisos, longos e amarrados evidenciavam ainda mais sua sensualidade. As curvas de seu corpo davam ao caminhar uma leveza que parecia fazê-la flutuar, apesar de andar a passos firmes e no pique que caminhada exigia.

Por instantes que pareceram intermináveis, Ele e Ela trocaram olhares. Flertaram. Ambos seguiram em frente. Continuaram a caminhada. Em linha reta em vez de círculos.