O celular vibrou no bolso. Um pulso tímido e breve. Ele deixou ali, quieto, como se não tivesse sentido o leve manifestar do aparelho.
A festa acontecia em dois lugares ao mesmo tempo. No real, o ar se ocupava de perfumes e conversas. No virtual, os rostos brilhavam, as taças pareciam mais cheias, as cores mais vivas.
Sorriu quando apontaram uma câmera para ele. Primeiro um sorriso curto, quase de canto. Depois um mais aberto, para garantir que não ficaria estranho na foto. Há tempos estudava o próprio ângulo, conhecia a inclinação da cabeça que rendia mais curtidas.
Perto da varanda, um casal se abraçava. Entre eles e o mundo, um celular apoiado registrava o momento em silêncio. A legenda viria depois. Algo sobre amor ou eternidade.
Foi então que percebeu o silêncio escondido sob o barulho. A música ainda tocava, mas parecia distante, como se viesse de outra sala. As palavras já não formavam frases, apenas ruídos de lábios que se abrem e fecham.
Deixou o copo sobre a mesa. Não sentiu o vidro frio e úmido escapar de seus dedos. Olhou ao redor. Se saísse agora, ninguém notaria.
Atravessou a sala devagar e abriu a porta. O ar de fora era mais frio. Ficou parado, olhando a rua quase vazia. Tentou respirar fundo. Fechou os olhos. Não registrou nada.
No bolso, o celular em silêncio.
Nenhuma notificação nova.