Em tempo

Entre o ano seguinte e
O ano passado há
Meses

Entre o que fazer no ano seguinte
E o que fiz do ano passado
Existe apenas o Eu

Neutropénie


Les neutrophiles
Distrait
Docile
Incolore
Subtil

Les bactéries
Alertes
abus
Sans la peur
Viris

Os Causos do “Taíde”: Zé Cardoso e a defunta



Nos idos da vida muitas coisas deixaram nas pessoas doces e amargas recordações. Uma das doces eram os velórios e os cortejos fúnebres com os quais eram verdadeiras algazarras. Nos velórios, havia o corriqueiro fogo com banquinhos, tamboretes e cepos para os os bate papos, causos e piadas para enfrentar as duras noites, nas quais, a meia noite era servida uma farofa bem reforçada e irrigada a cachaça, vinho e licor de figo com gengibre. Por esta razão, quando falecia alguém, diziam: “fulano deu a farofa”!

O enterro, este era maior ainda a algazarra, juntava o pessoal, pegavam o caixão e começavam a gritar: “Mas pruquê qui num vai... vai, vai! Quando andavam uns três quilômetros sentiam que o defunto estava pesado, colocavam-no ao chão pegavam uma vara e davam uma surra no morto para que ficasse mais leve.

Certa ocasião faleceu uma senhora no Logradouro e a rapaziada da Várzea que era uma capetada foi ajudar buscar a defunta para o cemitério. Zé Cardoso sabendo do cortejo, logo se ofereceu e subiu com Joaquim Chaves, Cleres de Loiola, Araújo, Álvaro Janjão, Taíde, Sebastião da Benidita.

O Zé Cardoso havia comido muito bucho de boi com repolho, doce de batata e havia chupado muita laranja campista e lá no velório tinha bolo de fubá feito com soro, que ele comeu uns 10.

Aquilo foi fermentando. Chegando perto da Rita Quenta-fogo, Bebé Vitor então perguntou: “Má pergunta, quem vai ai? Prigunta muito boa é fulana de tal!... deixem eu carregar um pouquinho, pois ela era minha amiga!” Quando fizeram aquela paradinha para a troca de carregadores o Zé Cardoso que estava com a barriga lotada de vento descarregou tudo no nariz do Bebé que sentiu aquela catinga violenta e gritou: “Essa mulher morreu a muitos dias gente? Oceis pinta! Lá no coigo quando morre, nos interra logo, num deixa fedê não!” Foi uma gargalhada só, parece que até a defunta lá dentro do caixão deu risada. Coisa de Coluna.

Os causos de “Taíde” / O Caminho, ano I-Edição 07-Pág.:03-Coluna/MG - Agosto 2009


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Ainda não terminou

Continuação de "Silêncio" 

Simplesmente resisto
Sem mais escrita
Sem término
Reticências

Simplesmente resisto, ainda não acabou
Sem mais escrita, sem fala, sem pausa
Sem término, sem final...
Reticências

Poema Objeto

Em si por si
Por linhas tortas
Quadros e poemas
Folhas em branco
Palavra chave
Verso abolido
Leituras possíveis
Possibilidade expressiva
Leituras possíveis
Verso abolido
Palavra chave
Quadros e poemas
Folhas em branco
Por linhas tortas
Em si por si

Gol do Galo

Pensei no verso
Lembrei das cores
Saudei a massa
Contemplei o lance.

De que vale a métrica?
De que importa a rima?
Pra que serve a técnica?

Se gritaram GOL
Se bradaram:
GALO!



De Pessoa a Drummond

Novos personagens

”Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.”


Estive em Coluna nesse fim de semana.
Andei pelas ruas, visitei parentes, contemplei as paisagens de minha infância.
Tantos personagens dessa grande peça já se foram...
Faltam tantas falas...
Nesse processo nostálgico estive pensando sobre o que me leva a voltar sempre ao mesmo lugar, sabendo que nada será como antes.
Talvez seja a certeza de que é necessário dar continuidade ao processo.
Contar uma nova história.
Somos, agora, os protagonistas.
Substitutos dos que já não são mais.
Novos, pequenos e grandes personagens esperam de nós um novo enredo.
E eles surgem para compor a cena.

E ... “O presente é tão grande ...”

É necessário que...
“Não nos afastemos muito...
Vamos de mão dadas...”

Adelina Correia. De Pessoa a Drummond

Os causos do “Taíde”: João Mendonça


Lá pelos 1950 oriundo da região do nosso município, chegou a Coluna, João Mendonça Ferreira.
Casado com a Maria foi a primeira casa a ser construída no alto do cruzeiro. O ambiente foi muito rápido, pois o Mendonça fazia tudo, era pau para toda obra e o lugar necessitava de pessoas assim.
Com a chegada de Padre Sady, não demorou muito para que os dois ficassem bons amigos. Era só o padre vê-lo na praça, descia as escadarias da casa paroquial para saborear do delicioso rapé que o Mendonça não dispensava por nada. Batiam papos, lembravam do seu Hermógenes, Espíndola, do Orozimbo e de todos os pioneiros que edificaram a nossa Igreja Matriz. Mendonça, às vezes bebia uma cachacinha a mais, e ficava meio serelepe, a ponto de sair do sério. Certo dia deu uma pulada fora, traindo assim a Dona Maria que não merecia tal atitude. Arrependido foi ao Padre Sady: “Louvado sois Cristo padre! Para sempre, Mendonça, o que se quer? Ah! Seu pade, que queria cunfessá! Confessar, Mendonça, o que você aprontou por ai? Eu mexi fora! O que? Você adulterou? Adulterar eu não sei que qui é não, o que sei é qui eu pulei a cerca! Cadê sua esposa, Mendonça? Coinfeito! Quero que o Senhor me perdoa e me dá a pinitência. Seeei! Pensou: ô meu caro, você vai rezar trezentos pai-nossos, trezentas ave-marias e trezentos glória ao Pai! Mas isso é muito, pade!... Seeei! Pode pagar em suaves prestações, mas, se houver reincidência, eu vou te mandar para as profundas do inferno! E o Mendonça saiu quebrando a cabeça, pensando: o que será essa tal de reincidência?


Os causos de “Taíde” / O Caminho, ano I-Edição 13-Pág.:03-Coluna/MG - Fevereiro 2010




Quero ir embora pra Pasárgada


Hoje acordei e fazer nada eu queria
Idealizava ser inútil por um dia
Esquecer obrigações, e sentir como seria

Durou pouco o devaneio
Afazer logo veio
Partiu ao desejo pelo meio

Desocupo do inútil
Vou cumprir agenda útil
De repente até fútil

Quero ir embora pra Pasárgada
Lá eu também sou amigo do rei
Lá sou amigo do poeta

Colibri


Entrou pela janela, um beija-flor
Inquieto, assoviou ao meu lado
Trazia prenúncio de um novo amor
E certeza de dias apaixonados

Rápido, gracioso, seguiu viagem
Bateu asas, saiu sem discrição
Talvez levasse outra mensagem
Dessas que alegram o coração

Paixões são sempre assim
Inesperadas, aparecem do nada
Às vezes têm triste fim
Às vezes, uma história encantada

Mas a pequena ave voltou
Com uma notícia um tanto incerta
“O estado afetivo acabou”
Meio sem fala avisei:
_ Vou deixar a janela aberta!

Leituras possíveis

No livro não lido e empoeirado,
Está escrito, que a vida passa.

Embora fiquem, escritos e livros.

É preciso antes de escrever,
Saber ler.

Consciência

Para a viagem: direção, companhia, paisagem.
Para fila: livro, papo, revista.
Para a noite: lua.
Para a solidão:
Companhia,
Paciência,
Oração.

Do papel ao [del]

O papel em branco
Não mais aflige a caneta
De carga cheia.

Quanto à tela vazia,
Essa sim incomoda
O cursor que pisca.

Homem urbano

Recolheste sozinho
Ao fone do “ipod
Recolheste a ti
Toda a música
Que o mundo tem

Procuraste pelo ônibus
Uma poltrona individual
Foges sem saber
Do elevador social

Intriga-se ao perceber
Tal atitude, tal fúria
Até certo prazer
Às vezes amargura
Homem urbano egoísta
Egometa, egocêntrico
Não importa a conquista
No final descontente

Vigília

Meia noite
Uma da madrugada
Duas da madrugada
Três da madrugada

Cuco!
Cuco!
Várias vezes cuco!
Quero manhã ensolarada

Cesse
Trovões
Relâmpagos
Tempestade
Vigília
Cesse

Nostalgia

Se perdido, não sei.
É simplesmente ver e ouvir.

Sobre a poesia e o poeta

Expressão de sentimento
Contida se liberta de dentro
Faz suspiros em tu, eles
Choro em ele, vós
Palavras se tornam “nós”

Poesia é solidão
Poeta é solitário
Talvez seja sim ou não
(So)neto involuntário

O poeta de nada tem certeza
Lêem poesia com clareza?
Tu, eles e vós identificais?

E o poeta descontente
Sente na alma a solidão
Um doer no coração
Não descrevi meu sentimento

Chuva

Precipitação atmosférica de água
Júbilo aroma, terra pantanosa
Infância etérea, brincadeira na enxurrada

O teto

Meia noite. Ao meu quarto me recolho
Meu Deus! E este teto! E, agora vede:
No concreto bruto sobre a parede,
Protege-me a pele, então me recolho.

Vou mandar derrubar a parede
Digo. Erguê-la ainda, somente com o olho
E olho o teto. E vejo-o ainda, intriga-me o olho
Figura imóvel sobre minha rede!

Levanto. Esforços faço. Chego, 
Quase a tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que arte produziu tão perfeito quadro?

A consciência humana é este teto!
Por mais que a gente a faça, a noite ele esta lá
Imperceptivelmente em nosso quarto.

Adaptado de: O Morcego - Augusto dos Anjos

Eu e o poeta

Afinei o violão
Com medo da harmonia
Os verbos conjuguei
Mas nada de poesia
Aflito e sem rima
Invoquei o poeta

O pintor das palavras falou,
que a rima não é solução
E com jeito de anjo torto
ele ainda sussurrou:
Você também é canhoto










Silêncio

Simplesmente resisto
                        Sem mais escrita
                        Sem término
                        Reticência

Os causos do “Taíde”: Joaquim Pereira


O folclore sempre marcou presença em nossa Coluna assim como a preservação da nossa cultura.
Na rua da várzea pertinho de Maria Vitorina, Nica de Bertulina, João da Esmeralda e Chico Tibucio morava Joaquim Pereira da Fonseca tio do nosso saudoso vice-prefeito Geraldo Pereira.
O Joaquim foi o maior comilão que nós vimos.
Em comícios, casamentos, em casa ou onde ia trabalhar, comia quase as panelas, gamelas e os talheres.
Certa vez o Nezinho seu irmão foi escolhido com dona Maria Chumbo para os patronos da Trezena de Santo Antonio. Nezinho o convidou para ajudá-lo angariar alguns leilões.
Desceram, chegaram à fazenda dos Aguiar, estava na hora da ordenha. Dona Sílvia havia feito café com leite e angu doce, ele tomou um copo de litro e dois “pratões” de angu doce.
Seguiram a viagem, no Sebastião Freitas dona Aninha estava fazendo requeijão, ele comeu um prato de ágata de requeijão quente e outro de doce de leite mole.
Desceram mais, lá no Pedralvo dona Negrinha havia apanhado um balaio de puxar milho de laranjas. Ele chupou a metade do balaio de laranjas serra d’água e campista.
No seu Miguel de Abreu ele achou o que mais gostava, bolo de fubá e brevidade. Comeu quase a gamela toda.
Nezinho preocupou-se e decidiu voltar como medo do Joaquim passar mal.
Chegaram!
Nezinho pediu ao Geraldo para saber de o Joaquim havia chegado bem, e se sentisse mal era para tomar bicarbonato.
Chegou, vovó?
Papai mandou eu perguntar se tio Joaquim chegou aqui bem?
“Chegou meu filho; chegou, comeu dois “pratões” de carne passadinha com quiabo e angu e ta dormindo”.
“Escuta pra você ver a altura do roncado dele e os tamanho dos puns que ele ta soltando”.
Foi quando ouviram: “Oh mãe, a carne passadinha com quiabo acabou?” “Se acabou a senhora faz um tutu com “seis ovo frito” que eu tô morrendo de fome”.
“Este meu filho! É pior que o monstro de Itamarandiba.”

Os causos de “Taíde” / O Caminho, ano I-Edição 04-Pág.:03-Coluna/MG - Maio 2009


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Peixe de aquário

Ser vertebrado respira por guelras
Sistema sensorial, diferentes células
Cores intensas, padrão fusiforme
Barbatanas longas, não sei quando dorme

Eu tenho um bem ali
Naquela cultura aquática
Naquele bojo minúsculo
Que lhe faz perder a prática

Esquecido se torna incógnito
Na sua gota oceânica
No seu ambiente insólito
De uma vida nem monogâmic

De Drummond a Neruda


Fiquei pensando num poema que a caneta não quis escrever

Tomei então este verso emprestado do poeta e resolvi deixar a tinta escorregar pelas linhas, ora calma, ora indecisa e muitas vezes, desatinada, sem destino.

E o tecido que se forma no papel borda as memórias que são como vento de outono, carregando folhas bailarinas...

A lembrança foge e brinca com nossos sonhos e desejos de infância.

Nosso tempo está além das montanhas da Coluninha, à léguas de nós que vagamos sem parar na estrada do sem fim.

“Saudade é sentir que existe o que não existe mais..."

Adelina Correia.De Drummond a Neruda/