Página no altar

Ela ficou, na frente do altar, parada. A palavra do sim, ela não ouviu; e o não, ah, esse ficou preso nos lábios do verso, que nunca veio.

No fundo da capela, o vento entrou e passou, levando tanto o perfume das flores quanto a poeira do chão. Ela, quieta, sussurrou: “lágrima tem hora, e essa não é”.

Pois que o verso foi mundo afora, sem deixar palavras nem rima. Ela ficou ali. Esperando o quê? Talvez o poema que não chegou, ou soneto não lido, o conto mal redigido. 

Só quando o recanto sagrado se esvaziou ela deu o primeiro passo. Não olhou para trás.

E eu, que a vi de longe, pensei: a página em branco compôs a história.