Por Naiara Martel
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a primeira parte clique aqui:
Em
linha reta. Um caminho só. De um círculo para outro. Passando em frente a
igreja, Ele se viu fazendo seus votos de amá-la e respeitá-la. Um círculo. Os
anelares. Mais adiante, na outra esquina, a viagem para Paris em lua-de-mel.
Eles seguiam perfeitos e juntos. Ele já imaginava que som teria a risada Dela
ao brilho das luzes, por entre o aroma dos cafés.
Uma rua
movimentada. Cuidado. Pararam, entreolharam-se. O primeiro obstáculo.
Atravessaram juntos. Ele, de peito arfado; Ela, de respiração rápida e
ofegante. Vieram outras esquinas. As buzinas lembrariam então os avisos que ela
deixaria na porta da geladeira para Ele dar banho no cachorro, ou consertar a
pia que vaza, ou então que, pelo amor de Deus, compre um tênis novo para as
caminhadas.
Dobram
a primeira esquina. Ela já não é tão bonita com o rabo de cavalo atrapalhado.
Ele observa a paisagem ao redor, e a cor do asfalto tem cor de cansaço. Tem
cheiro de escritório. As moças ocupadas que passam com muita pressa prendem a
atenção Dele. Mas a floricultura o faz imaginar qual seria a cor favorita Dela.
“A linha é reta. Não tanto o desejo”, Ele pensa.
No
parque principal, ele sentiu o perfume que vinha dos cabelos Dela. Tinham
cheiro de bebê. Como aqueles que saem da maternidade, dependentes e frágeis,
viciados nos pais. Seria Ela uma grávida bonita? O corpo firme, o cabelo sedoso
e os belos olhos grandes teriam um brilho novo carregando o fruto de um amor
tão certo. Ele seria o marido que vigia os enjôos, realiza os desejos e diz que
não, amor, você não está tão inchada. A linha reta formaria o laço.
Ele
estava decidido: era linha que ele queria. Era o caminho único que fazia
sentido. Pensou consigo: “Atravessaremos esta ponte e eu pedirei o telefone
dela.” E durante o caminho, ele sentiu suas mãos suarem, as pupilas dilatarem e
o coração acelerar. Ele poderia ouvir o pulsar que vinha do coração Dela também.
Ela sorriu, suspirou alto e disse:
“- Amor!”
Assustado,
Ele correu os olhos pelo parque e, no fim da ponte, enxergou o Amor. Era
moreno, mais alto um pouco que Ela e tinha um sorriso franco e tranqüilo,
típico dos que amam. Ela e o Amor se abraçaram e se beijaram ternamente.
E a
linha acabou bem ali, no Amor. Ironicamente, pensou: “No final, todos acabam
andando em círculos, perdidos por entre as suas certezas.”
Naiara Martel (Macapá)
que se define como adoradora de eufemismos é a Dona do blog “Do Quarto Verde”,
espaço que ela diz escrever o tudo aquilo que se perde em cadernos e listas que
saem de dentro do seu quarto. Acesse http://doquartoverde.blogspot.com/ e conheça o trabalho de Naiara.